Muito
além de apenas um livro infantil, As Crônicas de Nárnia misturam um mundo
fantástico com religião de uma maneira não sutil, e existem diversos motivos
pelos quais você deveria ler a maior obra de C. S. Lewis
O contexto
histórico apontava para uma queda dos valores humanos. Era segunda guerra
mundial e enquanto muitos desacreditavam de que haveria um Deus que
poderia reverter a situação em que o mundo se encontrava, outros buscavam se
ancorar na fé e acreditarem que um mundo melhor ainda poderia vir. O primeiro
livro escrito por C. S. Lewis, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa,
foi publicado em 1950 e seria então o único com a temática Nárnia. Foi
apenas após insistência de Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, que Lewis
decidiu continuar a história, mantendo apenas Aslam, o leão criador, como
personagem central.
Diferentemente
de outras histórias de fantasia, não existe uma ordem de leitura ou até mesmo
uma personagem principal na série de livros denominada de As Crônicas de
Nárnia. Cada um é independente e apenas Aslam aparece em todos.
Publicamente convertido ao cristianismo após um longo tempo
confessamente ateu, C. S. Lewis escreveu As Crônicas de Nárnia para sua
sobrinha, Lucy, e adaptou a linguagem dos livros de uma forma que ela pudesse
entender, daí a redação tão infantil. Contudo, ainda que o livro tenha
essa temática voltada para o público infantil, é considerado um dos maiores
clássicos da literatura cristã e ensina conceitos como criacionismo, perdão,
pecado e a obra redentora de Jesus através de uma trama que cativa o leitor.
Por outro
lado, nem todos os cristãos tem conhecimento da obra, talvez apenas viram os
filmes produzidos pela Walt Disney em 2005 e 2008, sendo depois assumido pela
Twentieth Century Fox em 2010. Para propagar mais o mundo fantástico que
existe por detrás do guarda-roupa, listei 11 motivos que deveriam ser
suficientes para te convencer a ler o maior clássico de Lewis. Não estou
defendendo aqui que os sete livros que compõem As Crônicas de Nárnia podem
substituir a leitura da Bíblia, contudo, entendo que é uma leitura
complementar essencial para aqueles que querem ler a mensagem de amor de
Cristo por uma ótica romanceada e interpretada por personagens da mente de
Lewis.
1. Os
livros apresentam a obra redentora de uma maneira fácil
Como foi
dito, os livros foram escritos para crianças e jovens que, em um ambiente
hostil, vinham perdendo sua esperança e fé. O autor se inspirou em histórias
clássicas da Bíblia para dar luz a um universo onde conceitos de certo/errado,
luz/trevas e paz/guerra são ensinados, principalmente por Aslam, o criador e
rei de Nárnia.
2. Os
conceitos de pecado, redenção e arrependimento são ensinados.
Muitas
crianças e adolescentes – e também adultos – têm dificuldade em compreender os
conceitos como a criação, o apocalipse, o arrependimento, o sacrifício de
Cristo e outros temas que são pilares do cristianismo. C. S. Lewis apresenta
esses temas utilizando personagens e metáforas de forma didática que
podem iluminar a mente e abrir os olhos para uma próxima vez em que fomos
refletir sobre as Escrituras.
3. Aslam
é trindade encarnada no universo de Nárnia
Lewis
discorda de que Aslam seria uma alegoria para Jesus. Ele não é Jesus, mas sim o
Cristo de Nárnia. Para o autor, ele seria mais como um Jesus encarnado no mundo
de animais falantes e árvores vivas, sendo o redentor daquele mundo, oferecendo
sua vida por amor ao povo. Partindo então do princípio que Aslam possui os
paradoxos do Filho Encarnado, podemos ver que ele possui traços das três pessoas:
está presente no momento da criação e pela sua palavra todas as coisas de
Nárnia são criadas [Pai]; com a traição de Edmundo, Aslam entrega a sua vida
para que Edmundo não venha sofrer as consequências de seu erro, e
ressuscita após três dias [Filho]; e por fim, pelo seu sopro, estátuas de
pedra ganham vida e a mensagem é propagada, de forma que cada vez que uma
personagem vem até sua presença ele aprende e recebe instrução, assim como a
terceira pessoa da trindade faz conosco hoje em dia [Espírito].
4. Para
conhecer Nárnia é preciso de fé
Em um dia de
chuva, durante uma brincadeira de esconde-esconde, Lucy descobre uma passagem
para Nárnia dentro de um guarda-roupa. Lá, ela se depara com um mundo
sobrenatural e ao voltar para o “mundo real”, conta paras seus irmãos daquele
novo universo, sendo desacreditada e até mesmo debochada. Seus irmãos chegam
até mesmo a checar o guarda-roupa e nada encontram lá. Não seria assim também
conosco? Contamos aos outros que encontramos um reino de amor, paz e alegria e
somos debochados? Para ver Nárnia é preciso fé e o coração de uma criança, que
no dia-a-dia encontrará conforto em terras narnianas. Além disso, no livro
Príncipe Caspian também vemos o tema de fé em um Deus que é invisível
abordado, pois as crianças (exceto Lúcia) inicialmente não conseguem ver Aslam
quando ele faz a sua primeira aparição, mas conseguem vê-lo depois quando
acreditam que Lúcia o está vendo.
5.
Falharemos ao tentar libertar Nárnia pelas nossas forças
A narrativa
do livro Príncipe Caspian traça um paralelo cristão ao apresentar os
telmarinos conquistadores (piratas) como apóstatas que tentam eliminar os
narnianos originais e seus costumes. Neste livro, Aslam é descrito apenas como
um mito – pois ele não é mais visto -, e C. S. Lewis confronta a postura
de muitos cristãos de hoje ao apresentar o povo narniano, liderados por
Príncipe Caspian, não crendo/dependendo do auxílio de Aslam ao
tentarem libertar Nárnia pelas próprias mãos. É claro, eles sempre falham
e só vencem quando reconhecem sua incapacidade de fazê-lo e admitem que
precisam e dependem de Aslam.
6.
A história de Heróis da Fé também serviram de inspiração
Não apenas a
história da criação e redenção foram abordados por Lewis mas
também histórias de Heróis da Fé foram metaforizadas, como a vida de
Moisés que traça um paralelo gigantesco na vida de Shasta, personagem do livro
O Cavalo e seu Menino. Neste livro, ficamos sabendo que Shasta havia sido
encontrado na água por um pescador quando ainda era bebê, foi criado por
pessoas que não eram seus pais e no final, é o responsável
pela libertação dos seus compatriotas quando cresceu, os
arquelandeses.
7. Lewis
nos convida ao arrependimento e à dependência de Aslam
A primeira
aparição de Eustáquio, primo dos garotos, acontece no livro A Viagem do
Peregrino da Alvorada. Neste livro, Eustáquio é apresentado como uma criança
rabugenta, egoísta e desprezível, tendo sua personalidade e vida inspirada na
vida de Paulo: ambos passaram de perseguidor descrente à líder e
pregador. No desenrolar do livro, Eustáquio é transformado em um dragão como
consequência de sua ganância, e só após se arrepender da forma que tratava
Nárnia ele volta à forma humana. Essa mudança de personalidade pode ser vista
como um batismo na vida da personagem. Aslam pede para que Eustáquio se
arrependa de sua vida pré-Nárnia para que volte à aparência humana, selando e
representando o novo nascimento do cristão. Fica claro ao leitor que esse
processo só pode ser feito através de Aslam: Eustáquio tenta arrancar sua pele
de dragão com suas garras mas só fracassa e se atinge
brutalmente – apenas as unhas de Aslam puderam arrancar a pele de
dragão.
A princípio
ardeu muito, mas em seguida foi uma delícia (Eustáquio)
8. Ainda
que muitas personagens façam ilusão à mitologia, eles não tiram o
brilhantismo da obra
C. S. Lewis
foi duramente criticado por cristãos por utilizar não apenas humanos em sua
obra, mas também animais falantes, fidalgos, reis e rainhas, gigantes, anões,
estrelas, feiticeiras e criaturas mitológicas como Baco, gnomos, cavalos
alados, faunos e unicórnios. O argumento utilizado pelos críticos é o de que o
autor teria incluído mensagens sutis de religiões pagãs na mensagem de Nárnia.
Contudo, a presença desses seres – que na obra foram criados por Aslam – não
ofuscam a mensagem por trás do livro e nem tiram seu brilhantismo. Acredito que
o objetivo de Lewis foi o de criar um mundo lúdico, onde tudo é possível e que
seja paralelo à realidade humana. Aslam, em seu poder criativo e através
de seu canto, é o dono da criação e sua criatividade é ilimitada: assim
como Deus criou cada humano com sua individualidade, Aslam criou os seres
dotados de características físicas e psicológicas diferentes e múltiplas.
9. A
quebra de paradigma do mal encarnado
A cultura
ocidental tem tendência a apresentar o mal como algo negro, feio e que
queima eternamente, sem falar, é claro, dos chifres. Contudo, C. S. Lewis nos
apresenta Jadis, a Feiticeira Branca, como uma imperatriz elegante – e falsa
rainha de Nárnia – que atrai os humanos através de sua beleza e malemolência.
Tal como Satanás, ela fica ao redor das crianças para atraí-las ao seu lado, e
quando consegue isso os escraviza e não cumpre nenhuma de suas propostas tentadoras.
Além disso, sua principal característica é o gelo, não o fogo como relacionamos
as obras malignas hoje em dia.
10. O
livro incentiva que o leitor encontre Nárnia no mundo real
C. S. Lewis
sabia que os leitores iriam, assim como acontece com todas as obras de ficção,
se apaixonar pelo universo de Nárnia e pela simpatia e elegância de Aslam.
Contudo, os livros são de cunho evangelístico e portanto apontam para
Jesus Cristo. Em um determinado momento do livro, Aslam e Lucy conversam e ele
diz: “Em seu mundo tenho outro nome. Vocês têm que aprender a conhecer-me por
esse nome. Foi por isso que os levei à Nárnia, para que, conhecendo-me um
pouco, venham a conhecer-me melhor”. Desta forma, o leitor é convidado para
conhecer o sacrifício do verdadeiro Leão, Jesus.
Em seu mundo
tenho outro nome. Vocês têm que aprender a conhecer-me por esse nome.
11. O
importante não é como você começa, e sim como termina
Susana é uma
das quatro crianças que encontram Nárnia pelo guarda-roupa e lá se mostra uma
boa manuseadora de arco e flecha, além de cuidar de seus irmãos e por muitas
vezes demonstrar coragem e fé. Presencia o sacrífico de Aslam na Mesa de Pedra
juntamente com sua irmã Lucy e, no final, é coroada como rainha de Nárnia,
passando a ser conhecida como Susana, a Gentil. Contudo, com o desenvolvimento
da personagem, somos informados no último livro, A Última Batalha, que ela não
retornaria a Nárnia por ter crescido e se preocupar mais com o seu trabalho e
vida social do que com a existência de Nárnia e suas aventuras. Esse final da
personagem foi criticado por muitos leitores como sendo uma postura machista de
Lewis, principalmente por frentes ativistas femininas, porém, ao ler toda a
história vemos que não seria essa a intenção do autor, até mesmo por que diversas
personagens femininas possuem destaque na obra. A mensagem que ele queria
passar era de que Suzana, antes coroada rainha, não era mais amiga de Nárnia
por estar mais interessada em maquiagens e compromissos sociais. Da mesma
forma, o que importa em nossa vida não é como começamos nossa jornada na fé, e
sim se estaremos esperando Jesus em seu grande retorno.
Em
todos os mundos há um caminho para o meu país – falou o Cordeiro. E, enquanto
ele falava, sua brancura de neve transformou-se em ouro quente, modificando-se
também sua forma. E ali estava o próprio Aslam, erguendo-se acima deles e
irradiando luz de sua juba.
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